A comunidade gamer e o cyberbullying

Mulher gamer.
FeaturedROTINA GAMER

As comunidades gamer são ambientes de troca de experiências e informações. Muitas pessoas encontram nelas espaços para expressar suas ideias e opiniões, interagindo com quem também compartilha interesses em comum.

Com o crescimento da Internet e dos games, é cada vez maior o número de participantes nas comunidades. No entanto, esses locais passaram a ser palco de posturas e comportamentos negativos, como o bullying virtual (cyberbullying).

Neste post, discutimos alguns pontos sobre os problemas da comunidade gamer e como podemos construir um ambiente que incentive discussões saudáveis, combatendo todo tipo de preconceito. Boa leitura!

O que é uma comunidade gamer?

Podemos definir uma comunidade da Internet como a união de pessoas com interesses em comum. No mundo dos games, é normal o surgimento de fóruns e grupos em redes sociais, para o compartilhando experiências e notícias.

Também encontramos diversas wikis, verdadeiras enciclopédias sobre tudo o que existe em um jogo específico: descrição de itens, habilidades dos personagens, estratégias e histórias detalhadas.

Hoje em dia, vários jogos multiplayer contam com chats entre os jogadores dentro do próprio jogo, em formato de texto ou áudio. Para os que não disponibilizam a função, entram em cena programas de comunicação, como Skype ou Discord.

PC gamers jogando em rede.
Vários jogos multiplayer disponibilizam função de chat por voz sem a necessidade de utilizar programas externos.

Ou seja, a comunicação dentro dos games nunca foi tão fácil. Essas funções abrem possibilidades para interações muito maiores do que nos videogames mais antigos. Como consequência, o engajamento no universo gamer cresce, o que pode ser percebido em eventos como a Brasil Game Show (BGS), Campus Party e Game XP, além dos próprios campeonatos nacionais e internacionais de League of Legends e Counter-Strike, por exemplo.

Isso tudo deveria significar apenas progresso para quem curte jogos. No entanto, junto com a expansão as comunidades gamer, veio uma discussão sobre o comportamento de alguns jogadores dentro desses ambientes.

Cyberbullying e a comunidade gamer

O crescimento exponencial da cultura dos videogames carregou consigo alguns problemas da nossa sociedade. Tudo começa quando as disputas dentro dos jogos começam a tomar o caminho das ofensas pessoais.

Junte a isso o fato de que videogames, em sua maioria (especialmente os mais antigos), não possuem foco em representatividade. Sintomas como hipersexualização de personagens femininas são comuns, não só nos games, mas em filmes, séries e livros derivados.

Como consequência, começamos a ver vários jogadores com comportamentos negativos, desmotivando players iniciantes e que ainda não têm tanta habilidade no jogo. As ofensas, porém, não atingem só os noobs.

Não é difícil encontrar, nas comunidades gamer, os mais diversos tipos de preconceito: contra a comunidade LGBT+, machismo e racismo são alguns exemplos. O jornal Gazeta do Povo fez uma matéria sobre bullying em jogos virtuais, contando o caso de um menino que foi excluído de um clã que seus amigos criaram, no jogo Clash of Clans (leia a história completa aqui).

Pessoas rindo em volta de um notebook.
Ofensas pessoais pela Internet atingem muitas pessoas dentro de jogos online.

Comentários negativos dividem as pessoas e tiram a harmonia do que deveria ser um ambiente de diversão. A partir daí, os jogos se tornam espaços onde as ofensas são cada vez mais gratuitas e pesadas, transformando as comunidades gamer em locais com comportamentos tóxicos, como o cyberbullyingbullying virtual.

Não há como medir as consequências que episódios como esses têm na vida das pessoas, principalmente as mais jovens. É preciso assumir, porém, que cuidados são necessários em situações desse tipo.

Para Henrique Sampaio, jornalista sócio-fundador do site Overloadr, que trabalha com produção de conteúdo sobre jogos e interage com o público gamer, os veículos de imprensa também são responsáveis pela construção desse cenário:

“Acredito que a imprensa possui parte da culpa pela toxicidade nos videogames. Por ter sido historicamente neutra e não crítica à forma como jogos representavam (ou deixavam de representar) mulheres, minorias ou certos grupos sociais, fazendo mais um trabalho de marketing e assessoria do que jornalismo de fato, o público foi educado para evitar esse olhar crítico”, comenta.

Banner para o teste de desempenho de PC da Shopinfo.

Um experimento interessante foi realizado pelo canal do YouTube Pipocando Games. Os apresentadores chamaram uma amiga para interagir no chat do CS: GO (por voz), enquanto um deles jogava. Durante o vídeo, é possível notar comentários preconceituosos nas partidas.

O experimento faz parte de uma campanha que incentiva o público feminino a não se esconder por trás de nicknames masculinos. Muitas mulheres utilizam esse método para evitar assédios online.

Henrique também fala sobre o público que interage com os conteúdos do mundo gamer: “O tipo de conteúdo que você produz determina o público que você vai ter. Por termos uma pegada mais politizada, por falarmos sobre sexualidade, sobre representatividade ou apenas por considerar o contexto no qual jogos estão inseridos, nosso público é muito mais progressista do que a média de outros veículos”, destaca.

A seção de comentários dos sites de conteúdo gamer também é um local de muita discussão, onde os jogadores, escondidos por trás do anonimato da Internet, podem acabar reproduzindo comportamentos tóxicos.

“Isso não quer dizer que a gente não receba críticas e ofensas por defendermos esses valores. Nesses casos, preferimos ignorar ou deixar a comunidade responder por nós”, complementa o jornalista.

Gamers reunidos para assistir partidas de esports.
Comunidades gamer devem ser espaços de crescimento mútuo entre os players, compartilhando dicas e trocando experiências.

A construção de uma comunidade gamer positiva

A comunidade gamer deve ser um ambiente de crescimento, onde todos possam aprender, tirar dúvidas e discutir sobre tudo o que está relacionado aos jogos eletrônicos.

Portanto, caso você se encontre em alguma situação desconfortável, ou veja algum amigo sofrendo preconceito, denuncie. Hoje, no Brasil, temos leis contra crimes virtuais, como o Marco Civil da Internet e a Lei dos Crimes Cibernéticos, além de ferramentas internas de denúncias, presentes em vários games.

O processo para construir um ambiente saudável, onde predomine a diversão e o compartilhamento de opiniões sem preconceito, é demorado. “Nessas de querer responder, aprendi que é bom você comprar as brigas certas. Não é de uma hora para a outra que você vai mudar uma mentalidade formada ao longo de décadas”, orienta Henrique.

Vale destacar que é papel de cada um agir na direção dessa mudança de pensamento, começando por seus amigos e contatos na Steam e no Discord, por exemplo. Quanto mais pessoas se conscientizarem e tomarem atitudes positivas, mais as comunidades gamer vão crescer.

“Temos um público LGBT+ muito forte e importante para nós, que nos ajuda a, por exemplo, moderar nossas transmissões ao vivo e eliminar comentários ofensivos”, ressalta Sampaio.


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